Todos temos alguns peixes a vender. O problema é que os meus, obras, fatos, ideias, pessoas que viveram no máximo até o começo do século vinte, não são mais tão frescos. Para desvendá-los é preciso um pouco mais de esforço, é preciso o mergulho no mundo virtual da leitura e no exercício intenso da imaginação. Em uma época que valoriza tanto o presenteísmo, talvez eu peça demais. Como, por exemplo, eu posso persuadir meus alunos bloggeiros e internautas, presentes e futuros, de que vale a pena gastar algum tempo com velharias tais como Joseph Priestley? E, aliás, quem já ouviu falar em Joseph Priestley por aqui? Já ouço a pergunta: "Qual é a utilidade disso, professora?" (não deixo de perceber a ironia da pergunta quando lembro que Priestley é um dos pais do "utilitarismo"...) Pois eu perdi meu tempo, uma tarde muito alegre, confesso, em descobrir quem ele era, há uns dois anos atrás.
Joseph Priestley (1733-1804) era um polímata, um daqueles intelectuais enciclopédicos, com múltiplos interesses e com uma voracidade, uma sede de conhecimento de causar inveja. Era teólogo em Birmingham e também cientista, e teve muitas dificuldades em conciliar essas atividades na prática – procurava abordar a religião com o mesmo racionalismo que empregava no exercício da ciência, o que não gerou especial simpatia entre os fiéis. O feito pelo qual é mais lembrado é o de haver descoberto o oxigênio em 1774 (ainda que não seja o único hoje a receber os créditos pela descoberta). Mas antes disso ele criou aquilo que fez com que eu o estudasse: a linha do tempo, o recurso gráfico que aparece em quase todo o livro didático de história e de história da arte hoje, o recurso que conheceu a glória e o desprezo junto às diferentes gerações de teóricos da história. Em 1765 Priestley publicou The chart of biography (1765),

A tal linha do tempo espalhou-se como pólvora, até atingir a popularidade e a onipresença que conhecemos hoje. Aos que criticam seu uso, por implicar em uma "história cronológica e linear", chamo a atenção, em primeiro lugar, para a extrema juventude do recurso (o que são 250 anos?), e em segundo lugar, para o fato de que história sempre exige um esforço de imaginação – a década de 1720 não é igual à de 1820, faz muita diferença haver nascido em uma ou em outra e, na falta de qualquer outro mérito, a linha do tempo ao menos permite que "visualizemos" essa distância ao apresentá-la espacialmente. É um recurso como tantos outros, e que pode continuar sendo útil mesmo para os que estudam história da cultura e da arte unicamente guiados por problemáticas.
